26 setembro 2013

A falta que eu não sentia

    

     Você sabe. Acho que sempre soube. Eu tinha medo de gostar de alguém, de me envolver, de me mostrar sem disfarces. Amar dá um medo danado. De perder a liberdade, a identidade, de se machucar, de não saber mais voltar.
     Eu estava na melhor fase da vida. Tinha certeza do que queria, procurava um trabalho, estava bem comigo, com minha mente, com meu corpo, com meus sonhos. Não precisava de mais ninguém, não sentia falta de nada, nem mesmo de mim. Eu me tinha. Me curtia. Gostava da minha companhia.
Quando era mais nova deitava a cabeça no travesseiro e ficava pensando em encontrar alguém até pegar no sono. Queria tanto um amor. Um homem que me amasse, que desse risada comigo, que gostasse das mesmas músicas que eu, que não achasse bobagem meu choro nos filmes água com açúcar, que me apoiasse e me desse a mão para andar pelas ruas. Então, um belo dia eu ia casar com ele. Ia descer as escadas da casa dos meus pais vestida de noiva. Ia casar, morar numa casa bonita, ter um cachorro e um filho. E ia ser feliz pra sempre, que nem nos livros.
     Então eu cresci. Cresci sem me dar conta que tinha crescido, que tinha virado uma mulher. Porque nem sempre a gente se porta como tal. Por medo, insegurança e covardia. Às vezes dá vontade de ser aquela eterna menina que na hora do aperto corre para os braços da mãe. Cresci correndo para os braços da minha mãe e pensei que mal tem? Adulto pode sentir medo, sim. Adulto só não pode fugir. Porque a gente tem que ser firme e atravessar cada obstáculo.
     Você chegou tão suave. Foi devagar, sem que eu tivesse tempo de pensar ou fazer conjecturas malucas. Chegou sincero. E me deu a certeza de que quando alguém te quer faz de tudo pra te conquistar. Eu, que era expert em lidar com cafajestes, fiquei com o pé atrás. Não sabia se aquilo tudo ia pra frente ou se era só mais uma curtição. Então, mais uma vez, percebi que eu estava na melhor época. E vi que não sentia falta de nada.
     Quando a gente se conheceu me deu um embrulho no estômago. Depois, fui me acalmando. Aos poucos, as coisas foram entrando nos eixos. Você segurou a minha mão, me beijou, te abracei, você beijou a minha testa. E ali selamos alguma coisa que eu não sabia o que era. Naquele momento, surgiu a cumplicidade. E uma vontade enorme de que o tempo parasse por alguns segundos. Minutos. Horas. Dias. Meses. Anos. Daquele dia em diante, nunca mais nos separamos. Daquele dia em diante, fomos nos conhecendo através de emails longos que falavam do passado. Daquele dia em diante, várias conversas falavam do presente. E muitos beijos anunciavam um futuro que nos esperava de braços abertos.
     Comecei a perceber que eu não me conhecia tanto assim, pois quando você chegou descobri que faltava tudo. Encontrei e reencontrei pedaços meus. Me vi em seus olhos, em seus abraços, em suas palavras. Me vi de novas formas. Formas tão boas. Formas tão minhas, tão suas. Descobri que posso muito mais do que imagino. E que nunca vai faltar um abraço para me acolher, um apoio para me encorajar, um carinho para me encontrar.
     Já passamos por tanta coisa juntos. Isso faz com que nosso amor fique mais e mais bonito. Mais e mais forte. Mais e mais sereno. Porque o amor não é gritaria, é silêncio. Não é gargalhada, é sorriso. Não é rock, é bossa nova.
     Hoje, quando deito a cabeça no travesseiro, sinto seus braços me envolvendo. E eu nem preciso pensar em nada para pegar no sono. Ele vem de forma natural. Porque não me falta mais nada.

Clarissa Corrêa

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